A recente aprovação pela Comissão de Assuntos Urbanos da Câmara Municipal de Maceió do projeto que visa permitir que motoristas de aplicativo utilizem as faixas exclusivas de ônibus representa um grave retrocesso na política de mobilidade urbana da cidade.
Essas faixas foram criadas com um propósito claro: priorizar o transporte coletivo, reduzir o tempo de deslocamento e garantir mais eficiência para quem depende diariamente dos ônibus para ir ao trabalho, à escola ou retornar para casa.
Ao longo do tempo, no entanto, diversas exceções foram sendo incluídas, desconfigurando completamente a proposta original. A inclusão dos motoristas de aplicativo nessa lista enfraquece ainda mais a prioridade do transporte em massa, que deveria ser tratado como uma solução central para os problemas de trânsito e sustentabilidade urbana.
A lógica da faixa exclusiva é simples: menos veículos particulares e mais gente sendo transportada em menos tempo. Ao abrir esse espaço para carros de aplicativo — que, em sua maioria, transportam uma única pessoa por vez — o legislativo ignora o princípio da coletividade e favorece um modelo individualizado, congestionando novamente o que deveria ser livre para os ônibus.
É preciso perguntar: qual é o sentido de manter a faixa exclusiva se ela deixa de ser, de fato, exclusiva? A multiplicação de exceções ameaça a eficácia da medida e penaliza justamente aqueles que mais precisam: os usuários do transporte público, geralmente trabalhadores das periferias, que enfrentam longas jornadas diárias.
Maceió precisa repensar suas prioridades. Se a intenção é melhorar a mobilidade, deve-se investir na qualificação do transporte coletivo — não em flexibilizações que só ampliam desigualdades e comprometem o que ainda resta de planejamento urbano inteligente.