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Câmara discute inclusão de livros de autores maceioenses nas escolas municipais

Escritores, poetas e educadores da capital debateram na Câmara Municipal de Maceió o “Fomento à literatura”. A audiência proposta pelo vereador Dr.Valmir Gomes teve por objetivo dialogar com o Poder Legislativo e com o Poder Executivo a possibilidade de adoção dos livros dos escritores alagoanos nas escolas do município.

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O poeta e escritor Mateus Cavalcante foi um dos primeiros a falar sobre a necessidade de garantir aos estudantes o acesso ao conteúdo produzido no Estado. Vítima de uma doença rara e progressiva, ele encontrou na literatura a força para se expressar e perpetuar suas ideias.

“A literatura é uma arte. Mas é mais que isso. Ela é um instrumento da educação. Com suas diversas formas e linguagens ela tem uma característica pedagógica e precisa ser desenvolvida em nossas escolas. Ela deve ser essencial para isso”, disse Mateus.

Segundo ele, o momento é de reflexão e reconhecimento da importância da leitura e da produção literária. Em especial porque a disputa com a tecnologia tem, em alguns casos, prejudicado o desenvolvimento da literatura por parte dos leitores.

“Enfrentamos muitos percalços. Mas, temos muitos vilões na literatura. E um deles é a tecnologia. Veio para facilitar nossa vida. Mas ao mesmo tempo vem tirando o espaço, que é próprio do livro. E ele jamais pode perder o seu espaço. Ele é o guardião da memória”, completou Mateus.

Além disso, os impostos e tributos em Alagoas sobre os escritores têm criado muitas dificuldades. Isso obriga o autor a buscar serviços fora do Estado.

Durante sua apresentação, ele expôs um Plano de Fomento à Literatura para servir de referência ao Executivo Municipal,  para adoção da produção dos escritores da capital e do estado.

 

Empenho

Segundo o vereador Dr. Valmir seu gabinete tem se empenhado em discutir essa pauta já que também reconhece a importância da literatura como ferramenta de transformação. Por isso se comprometeu em levar ao Executivo a experiência de alguns municípios que incluíram a produção local de seus escritores nas escolas municipais. Ele também citou um projeto de sua autoria que prevê incentivos culturais para a literatura. A matéria no momento está sob estudo na Procuradoria Geral do Município.

“Temos consciência de que a literatura também é um instrumento de transformação da sociedade. Os livros informam, formam e transformam. E a sociedade precisa desta contribuição, em especial da produção feita pelos alagoanos”, observou o vereador.

 

Experiência

A escritora e compositora paraibana, radicada há 44 anos em Maceió, Fátima Maia, iniciou sua produção literária nos anos de 1980. Nesse período viu sua produção ganhar repercussão, mas ao mesmo tempo sem espaço oficial na rede pública municipal. Na música teve uma produção inteira como compositora incluída no LP do grupo pernambucano Quinteto Violado.

“Nossos textos já foram adotados informalmente nas escolas, inicialmente, com cópias mimeografadas. Quando cheguei ao reconhecimento nacional por meio da gravadora e editora Warner, um deles foi utilizado nas escolas particulares”, contou Fátima.

Mesmo tendo superado as dificuldades iniciais para garantir sua produção, conseguiu ter textos com repercussão nacional. Entretanto, o mesmo não ocorreu com a mesma força nas unidades públicas.

“Meus textos e livros chegaram nas unidades privadas e em algumas públicas por conta de alguns professores que pediam autorização para reproduzi-los. Coloco minha minha literatura dentro das escolas particulares de Alagoas e do Brasil, mas por que a escola pública não tem direito de acesso ao meu texto?”, indagou Fátima.

Integrante da Academia Quitundense de Letras, Isac Lins destacou a importância da literatura como instrumento de comunicação social. Por meio dela é transmitido o que foi o passado, o presente e as perspectivas do futuro.

“A literatura é uma ferramenta indispensável de transmissão de conhecimento cultural. Eu não consigo ler um livro se não for físico. Muito embora a tecnologia me sirva muito. Mas é necessário que a memória de um livro físico não seja esquecida nunca. Ele guarda a relevância porque o contato vivo nos aproxima muito do que quer ser transmitido pelo escritor”, revelou Isac.

Ele lembrou da imunidade tributária sobre os livros, como prevê a Constituição. Mas, ainda assim, o processo de confecção do livro é muito caro.

“A educação é vista como despesa do orçamento público, mas deveria ser vista como investimento. A literatura deveria ser vista da mesma forma. E muitas vezes os escritores preferem deixar seus escritos nas gavetas porque se fossem publicar tudo o que escrevem certamente não poderiam comprar o pão de cada dia”, revelou Isac.

O diretor do Sindicato dos Bibliotecários Márcio Adriano Costa apresentou dados de uma pesquisa que revela que de 2015 a 2020 foram fechadas 847 bibliotecas. Em sua avaliação isso gera déficit de leitura e não apenas dos espaços públicos.

“Defendemos a criação de um fórum para discutir a política pública em Maceió. Os dados revelam que o fechamento de bibliotecas significa déficit de leitura e para literatura. De 2015 a 2016, 100 milhões de leitores e neste ano perdemos 46 milhões de leitores. A pandemia foi um fator, mas já vínhamos perdendo leitores por falta de ações. A casa aprovou um projeto para educação empreendedora, nós propomos que possa ser incluído neste projeto, nas disciplinas, a produção literária dos escritores maceioenses, inclusive, a literatura de cordel”, defendeu Márcio.

 

Proposta

Ao final da audiência, o Dr. Valmir propôs a formação de uma comissão para dialogar com a Secretaria Municipal de Cultura e o Executivo a fim de garantir investimentos para a área cultural. Ele lembrou que, em alguns casos, há uma avaliação de que os vereadores não podem propor, por meio de projetos, situações que gerem custos. Conforme lembrou, há outros entendimentos de que isso está superado e por isso acredita que o diálogo possa ajudar a mudar o entendimento da procuradoria municipal.

Sobre a inclusão dos livros já publicados na grade escolar municipal será articulada uma reunião com a Secretaria Municipal de Cultura (Semed) para iniciar as discussões sobre a proposta dos escritores.

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