8 de dezembro de 2025
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Brasil lidera América Latina em população sob controle de facções, aponta estudo

Um levantamento internacional aponta que o Brasil concentra o maior número de pessoas vivendo sob as regras impostas por facções criminosas em toda a América Latina. De acordo com o estudo Governança Criminal na América Latina: Prevalência e Correlatos, publicado pela Cambridge University Press, entre 50,6 e 61,6 milhões de brasileiros, cerca de 26% da população, estão submetidos à chamada “governança criminal”, termo usado para descrever situações em que organizações impõem normas sobre comunidades, controlando desde a convivência social até a relação com o Estado.

A pesquisa, baseada em dados do Latinobarómetro de 2020, mostra que o Brasil se distancia de outros países da região. A Costa Rica aparece em segundo lugar, com 13% da população sob influência de facções, seguida por Honduras e Equador (11% cada), e México, Colômbia, El Salvador e Panamá, todos com cerca de 9%. No total, cerca de 14% dos latino-americanos vivem sob esse tipo de domínio, o que evidencia a magnitude do problema brasileiro.

O relatório destaca que a presença de facções não está necessariamente associada à ausência do Estado, mas, muitas vezes, à sua forte atuação repressiva. Os pesquisadores citam como exemplo o crescimento do Primeiro Comando da Capital (PCC), surgido em São Paulo, o estado mais rico do país. Altos índices de encarceramento, operações policiais em comunidades e repressão ao tráfico de drogas são apontados como fatores que, paradoxalmente, ampliam o poder desses grupos, estimulando-os a impor regras próprias e ampliar sua governança sobre territórios.

Além da análise acadêmica, o impacto prático desse domínio aparece no cotidiano de moradores. Em áreas sob influência do Comando Vermelho, por exemplo, como em bairros de Manaus, relatos mostram que a facção estabelece punições internas e chega até a impor regras contra violência doméstica para evitar a entrada da polícia. O Brasil, segundo dados recentes, conta com 64 facções em atividade, sendo PCC e CV as duas únicas com presença efetivamente nacional.