Um caso veio à tona com a suspeita de que um adolescente de apenas 14 anos liderava um grupo que comercializava mais de 20 milhões de logins e senhas de instituições como a Justiça e as principais polícias do Brasil. As investigações começaram após uma operação policial que chegou à residência de outro adolescente, de 17 anos, na cidade de Bady Bassitt, em São Paulo.
O jovem de 14 anos, identificado como Adolescente A devido à sua idade, foi flagrado logado no sistema da Polícia Civil de São Paulo, onde inseriu um boletim de ocorrência com informações falsas diretamente de seu computador. O momento da prisão foi registrado por um membro da quadrilha que, ousadamente, compartilhou o vídeo em uma rede social, mas acabou detido quatro dias depois.
Outro integrante da quadrilha, identificado como Lucas Barbas, de 18 anos, também conhecido como “Fusaao” na internet, fez modificações no sistema para ocultar sua ficha criminal, chegando ao ponto de se declarar como morto para evitar futuras investigações. A polícia descobriu que todos os envolvidos se conheceram em comunidades de jogos no aplicativo Discord, popular entre os jovens, onde utilizavam servidores privados para armazenar seus dados, dificultando o rastreamento. Após 32 dias de investigação, o líder da quadrilha, um jovem de 14 anos, identificado como Adolescente B, admitiu ser o responsável pela criação de um programa de computador que permitia o acesso a qualquer site, público ou privado, acumulando um espantoso banco com 20 milhões de logins e senhas.
O grupo tinha acesso a sites de várias polícias estaduais, Polícia Federal, Exército e Tribunal de Justiça, incluindo mais de 3.600 logins e senhas do Tribunal de Justiça de São Paulo, 1.500 da Polícia Militar de São Paulo, 500 da Polícia Federal, quase 150 do Exército e 89 do Ministério Público de São Paulo. Segundo o delegado Adriano Pitoscia, o adolescente B alegou que acessou essas informações por curiosidade, enquanto os outros membros utilizavam ou vendiam logins e senhas por preços que variavam de R$ 200 a R$ 1.000.
O Estatuto da Criança e do Adolescente determina que os pais devem supervisionar as ações de seus filhos, e a negligência pode resultar em multas que variam de 3 a 20 salários mínimos, de acordo com o juiz de direito da Infância e Juventude, Evandro Pelarin. Após serem detidos em junho na Operação Lotter – Fraudador Digital -, os cinco hackers envolvidos foram liberados, mas, recentemente, Adolescente A retornou à custódia e está sob a guarda da Fundação Casa. A defesa de Lucas Barbas alega sua inocência, enquanto o Discord afirma adotar uma política de tolerância zero em relação a atividades ilegais, removendo conteúdo, proibindo usuários e colaborando com as autoridades assim que toma conhecimento de tais condutas.